A polimorbidade refere-se à coexistência de duas ou mais condições de saúde crônicas que ocorrem simultaneamente em um mesmo paciente. Essa é uma condição que se torna cada vez mais comum, especialmente entre a população idosa e preocupação crescente de saúde pública.
A polimorbidade é caracterizada pela presença Exemplos comuns incluem diabetes, hipertensão, doenças cardíacas e artrite.
Essa situação pode complicar o manejo clínico e impactar significativamente a qualidade de vida dos indivíduos afetados.
A prevalência de polimorbidade tem aumentado significativamente devido ao envelhecimento da população e à maior incidência de condições crônicas.
Prevalência de Polimorbidade
Estudos indicam que a prevalência de polimorbidade entre idosos é alarmante. No Brasil, por exemplo, mais da metade dos idosos com 60 anos ou mais possui pelo menos uma doença crônica não transmissível (DCNT), e muitos apresentam duas ou mais condições de saúde.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) são principalmente, mas não exclusivamente:
- Doenças cardiovasculares, como as cerebrovasculares e isquêmicas
- Neoplasias, ou seja, cânceres
- Doenças respiratórias crônicas
- Diabetes mellitus
A OMS considera as DCNTs um dos maiores problemas de saúde pública no mundo e recentemente incluiu a obesidade como doença presente no Código Internacional de Doenças (CID-11). Elas são doenças de longa duração e são resultado de uma combinação de fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e comportamentais.
Os fatores de risco comportamentais que podem ser modificados são: tabagismo, inatividade física – sedentarismo, alimentação inadequada e consumo de álcool.
A OMS também reconhece que a poluição do ar é um fator de risco crítico para as DCNTs.
Para responder às DCNTs, é importante a detecção, rastreio e tratamento dessas doenças, bem como cuidados paliativos.
Os dados refletem não apenas a alta carga de doenças crônicas entre os idosos, mas também a complexidade do tratamento que esses pacientes enfrentam. A polimorbidade é mais comum em mulheres e na faixa etária de 70 a 79 anos, sendo frequentemente associada a uma percepção negativa da saúde e à necessidade de múltiplos cuidados médicos [4].
Um problema adicional à polimorbidade é o uso de cinco ou mais medicamentos, chamado polifarmácia. Em um estudo específico, a prevalência de polifarmácia foi encontrada em 18% dos idosos com DCNT. Além disso, a pesquisa revelou que 93% dos idosos utilizavam pelo menos um medicamento de uso crônico, com 18% utilizando cinco ou mais medicamentos.
Estudo realizado na Alemanha com 564.353 pacientes mostrou que 86% das mulheres e 85% dos homens exibiram multimorbidade, ao mesmo tempo em que, 37% das mulheres e 38% dos homens, faziam uso de múltiplos medicamentos. A prevalência de multimorbidades (> 2 doenças crônicas) em homens entre 61 a 65 anos aumenta de 81% para 91% em homens com 96-100 anos, e de 82% a 89% em faixas etárias iguais em mulheres. A prevalência de polifarmácia (5+ medicamentos prescritos) aumenta de 17% em homens de 61 a 65 anos para 43% nos homens de 96- 100 anos e de 13% a 45% em mulheres das mesmas faixas etárias.
Em relação aos medicamentos utilizados, uma pesquisa realizada com 583 pacientes idosos, 63% dos pacientes utilizavam remédios para pressão alta ou doenças cardíacas, 13% faziam uso de psicoativos e 13% para colesterol. Dentre isso, os idosos com doenças crônicas utilizavam pelo menos um dos medicamentos de uso crônico, sendo cerca de 93%, contudo, a prevalência de polifármacia entre estes idosos foram de 18%.
As principais doenças associadas à polifarmácia são o diabetes e as doenças cardíacas., menos o acidente vascular cerebral. Outras doenças, de forma crescente que aumentam o uso de diversos medicamentos são em ordem crescente: doenças pulmonares, reumáticas, depressão e hipercolesterolemia, A dor crônica e distúrbios gástricos são também queixas comuns que levam ao uso de mais de um medicamento.
Impacto na Saúde Individual
A polimorbidade tem um impacto significativo na saúde individual, afetando diversos aspectos da vida do paciente. Estão associados à polimorbidade:
- Polifarmácia: O tratamento de múltiplas condições frequentemente resulta no uso de vários medicamentos, conhecido como polifarmácia. Isso aumenta o risco de interações medicamentosas e reações adversas, que são particularmente perigosas para os idosos devido às alterações fisiológicas relacionadas à idade. Estudos mostram que as internações hospitalares por reações adversas a medicamentos são comuns entre idosos com polimorbidade.
- Diminuição da Qualidade de Vida: A coexistência de várias doenças pode impactar negativamente a capacidade funcional do paciente, dificultando atividades diárias e reduzindo sua qualidade de vida. Os pacientes podem experimentar limitações físicas e emocionais significativas, levando a um aumento da dependência e isolamento social.
- Desafios no Manejo Clínico: A gestão da polimorbidade requer uma abordagem multidisciplinar e coordenada entre diferentes profissionais de saúde. A complexidade dos tratamentos pode dificultar a adesão ao regime terapêutico, resultando em piora das condições clínicas.
- Efeitos Psicológicos: Além dos desafios físicos, a polimorbidade também pode levar a problemas psicológicos, como depressão e ansiedade, exacerbando ainda mais as dificuldades enfrentadas pelos pacientes.
Principais Riscos Associados a Polimorbidade
- Aumento da Mortalidade: A polimorbidade está associada a um risco elevado de mortalidade, uma vez que múltiplas condições podem interagir negativamente.
- Aumento das internações hospitalares: Pacientes com polimorbidade tendem a ser hospitalizados com mais frequência devido a complicações relacionadas às suas várias condições. A presença de várias doenças pode agravar sintomas e levar a situações críticas que exigem cuidados intensivos.
- Polifarmácia: O tratamento de múltiplas doenças muitas vezes resulta no uso de vários medicamentos, aumentando o risco de interações medicamentosas e efeitos colaterais.
Qual a maneira de avaliar a polimorbidade um consultório ou clínica?
A avaliação da polimorbidade em um consultório ou clínica é um processo crítico que envolve a identificação e análise das múltiplas condições de saúde que um paciente pode apresentar. Essa avaliação deve ser sistemática e abrangente, considerando tanto aspectos clínicos quanto funcionais. A seguir, apresento uma abordagem estruturada para a avaliação da polimorbidade.
- Coleta de Dados Clínicos
- História médica completa: anamnese detalhada que inclua informações sobre doenças pré-existentes, tratamentos anteriores e atuais, e qualquer histórico de complicações; sintomas relacionados a cada condição e como eles afetam a vida diária do paciente; informações completas sobre as condições crônicas do paciente e seus tratamentos; doenças crônicas pré-existentes; histórico familiar de doenças; medicamentos em uso (incluindo dosagens e frequência); alergias e reações adversas a medicamentos; hábitos de vida (como tabagismo, consumo de álcool, atividade física).
- Formulário para revisar a medicação e auxiliar a identificar polifarmácia e interações medicamentosas:
- Lista completa de todos os medicamentos em uso.
- Informações sobre o propósito de cada medicamento.
- Frequência e dosagem.
- Uso de Questionários Padronizados: Utilizar ferramentas validadas para avaliar a presença de múltiplas condições crônicas.
- Índice de Comorbidade de Charlson: quantifica o impacto das doenças crônicas na saúde do paciente.
- Avaliação da Capacidade Funcional
- Escalas atividades básicas da vida diária (ABVD); atividades instrumentais da vida diária (AIVD).
- Escores: Barthel Index; Lawton IADL Scale
- Revisão da Medicação
- Identificação da Polifarmácia: Verificar todos os medicamentos que o paciente está utilizando, identificando aqueles que podem causar interações ou efeitos adversos.
- Definir polifarmácia como o uso de cinco ou mais medicamentos diariamente, conforme indicado em várias diretrizes clínicas.
- Triagem e Avaliação Nutricional:
- Triagem Nutricional.
- Adultos: Nutritional Risk Screening 2002 (NRS-2002);
- Idosos (65+) Mini Nutritional Assessment (MNA)
- Avaliação Nutricional: Avaliação Global Subjetiva (SGA) e SGA-PPP (Produzida pelo Paciente)
- Exames laboratoriais: Sangue; urina; fezes.
- Composição corporal:
- Antropometria: peso; altura; circunferência da panturrilha (CP); circunferência do braço (CB); prega triciptal (PT).
- Bioimpedância corporal (BIA)
- Densitometria de corpo inteiro (DXA)
- Recordatório alimentar de 24 horas.
- Triagem Nutricional.
- Monitoramento e Acompanhamento
- Acompanhamento Regular: consultas com intervalo de 20 a 40 dias
- Estabelecer um plano de cuidados: avaliação das condições crônicas e dos tratamentos em andamento. Planos de tratamento individualizados adaptado às suas necessidades específicas.
- Ajustes das intervenções conforme necessário, baseando na resposta do paciente ao tratamento e na evolução das condições.
- Educação dos pacientes e familiares sobre as condições crônicas e como gerenciá-las.
- Interdisciplinaridade
- Envolver uma equipe de profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, nutricionistas e farmacêuticos, para garantir uma abordagem abrangente ao tratamento.
- A comunicação entre os membros da equipe para coordenar o cuidado e evitar complicações.
- Formulário de Monitoramento da Saúde
- Data das consultas.
- Observações sobre o estado de saúde do paciente.
- Ajustes no tratamento ou medicações.
- Formulários:
- Jotform: questionários médicos personalizáveis, incluindo formulários de anamnese e avaliação nutricional.
- Smartsheet: modelos para registro médico e monitoramento do progresso do paciente.
Conclusão
A polimorbidade é um desafio significativo na prática clínica moderna provocado pelo aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população. É crucial implementar estratégias eficazes para o manejo incluindo um plano de cuidados, a educação em saúde, a revisão regular dos medicamentos e a coordenação entre os profissionais de saúde para garantir que os pacientes recebam o cuidado adequado. A conscientização sobre os riscos associados e a adesão dos pacientes à estratégias eficazes podem melhorar a saúde e o bem-estar dos pacientes.
A avaliação da polimorbidade deve ser um processo contínuo e dinâmico, adaptando-se às necessidades específicas de cada paciente. A utilização de ferramentas padronizadas e a abordagem multidisciplinar são fundamentais para garantir a eficácia das múltiplas condições crônicas, melhorando assim a qualidade de vida dos pacientes.
Call-to-Action
Se você está lidando com múltiplas condições crônicas é importante entender o que é “Polimorbidade”, e importante buscar orientação médica para um manejo adequado da saúde. O estado nutricional tem papel decisivo no curso da polimorbidade, e pode definir o agravamento das doenças e a ação dos medicamentos. Esse manejo inclui a conversa detalhada com o médico clínico, que fará questionários de risco ou de agravamento da doença; avaliação detalhada do problema para traçar prognóstico e qualidade de vida; solicitação de análises complementares laboratoriais; identificar o impacto da doença e dos diferentes medicamentos sobre o estado clínico e nutricional; programar revisões e retornos para melhor ajuste dos planos definidos entre o médico e você.
Referências:
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